Uma coisa de poetas.
Disseram, mas não sei quem.
Falavam de amor.
Falavam de uma palavra de quatro letras e todos os alfabetos.
Inigualável, entre outras coisas.
Era coisa de poetas.
Que sentiam e fluíam em sílabas o brilho que viam.
Que riam, que choravam.
Que se transportavam para o sítio que reflectia o estado de espírito.
Ou se deixavam ficar no mesmo sítio e nesse sítio de sempre criavam o outro sítio.
E os que não amam, porque nunca amaram, ou até já, são poetas?
Estou a acabar-me, sinto que morro, mas vivo.
Sinto-me vivo enquanto morro.
É uma adoração, uma oração, uma promessa.
Mato um pavão e roubo-lhe as penas, ocupo o seu lugar.
Mato um pirata e afogo-me no seu rum.
Asfixio-o o mago com a minha negra magia, respiro com a sua pura.
Isto era uma memória, já lá vai o tempo…
Fiz tudo isso, fiz pior, o pior, procurei faze-lo pelo melhor, procurei o meu melhor.
Em vão, tornei-me impiedoso, frio, tão frio que queimo, sou um assassino.
As mortes que fui plantando cresceram, deram fruto e apodreceram, quase todas.
O resultado uma vida com recortes.
Recortes que formam uma vida em homenagem ás que recorto.
Sou resultado de mim mesmo, mais a mistura do que me transcende.
Sou uma gravata, uma camisa-de-forças, um feitiço, mas essencialmente, uma pena.
Com cores, com dias a preto e branco.
Com dias sem cor e sem noite.
Um pouco de tudo o que há de bom e de mau.
Se cortasse uma orelha saberiam o meu nome, já foi feito.
Que fazer então, interroga enquanto deixa que os dedos se coordenem a dançar de letra em letra.
Simplesmente fazer, é uma boa opção, sempre dá para me esquecer de coisas.
E de…não coisas.
Reconhecimento teria tido graça na altura em que aspirei.
Outras palavras bonitas também teriam tido graça na altura em que as pensei.
Assim é uma coisa de poetas, para os que se auto proclamam.