Como quem consegue ver nos olhos de um animal selvagem a memoria da sua liberdade.
Vejo nos meus espelhos a prisão em que vivo e vou morrendo.
Vejo a lembrança de tempos em que podia ser selvagem, podia ser animal.
Vejo apenas em memória, por agora é uma diferente história.
Refém de uma sociedade que tendo a desprezar e de um sistema fundado em contratos e juros e numa serie de puros embustes e embusteiros, que te cegam e te cercam e te prendem e não te matam, querem-te vivo e em cativeiro.
Recorro a copos e peço socorro a lembranças que me lembram das mudanças e por isso me afogo em memórias, onde, memorável e demente, passo por entre as grades desta penitência mental que me abrasa tanto as ideias.
Sonho acordado com a liberdade em que dormi anos a fio.
Sonho tão alto que desafio leis sem gravidades, nem quedas, nem paridades.
Ímpar e imparável sou o miserável mais afável que algum dia vi, único, raro, tão raro que não existo a não ser na vossa mente.
São visões espelhadas no íntimo de um Salvo.
São particulares por serem minhas e públicas pelo mesmo motivo.
São ainda, por enquanto a base de um mundo que muda de cara todos os dias.
São a base de quem se reinventa e aguenta criar a partir do nada para ser livre de tudo.