quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
O Louco do Cachimbo
Devaneava pelos labirintos fictícios que ecoavam na sua mente. Fumava o seu cachimbo e falava sozinho. Os pensamentos eram falados em voz alta e muitas vezes escritos. Procurou a personagem que não existia, tal como lhe tinham dito. Era muita exigência, estava demasiadamente idealizada para ser real. Fez das ilusões bengala, água do veneno e oxigénio do fumo do seu cachimbo. Fez tudo errado e o pior foi que acreditou que estava certo. Sozinho num deserto ele imaginava-se a escrever livros fantásticos e realmente seriam se fossem reais. Tinha um poder, diziam que era carisma, diziam que era a palavra, diziam que era sorte. Ninguém sabia o que era. Como todos, pensou ser especial, no seu mundo o mundo não era seu, mas girava em seu torno e ao seu ritmo. Pensou que o fosse mudar, pensou que o seu dom o levaria a algum lado. Pensou em excesso, mas muito resumidamente ele pensou errado. Acreditou ter nascido para liderar, mas era liderado pelo que pensava. Ele pensava que era o outro e que o outro seria ele. Enganou-se porque pensou em vez de viver. Decidiu viver sem pensar e não se preocupou em liderar, isolou-se e começou a escrever. Magia nas palavras, sonhou que tinha tido um sonho e que se tinha tornado num escritor exímio. Sonhou que tinha sido acordado pelo dom e sentiu-se abençoado. Perdeu-se nos labirintos fictícios por onde andou, sentou-se no chão e acendeu o cachimbo. Recitou divagações maravilhosas sem se dar conta de que continuava a dormir. Sonhou e acordou sentado no chão onde sonhou estar sentado. Quando finalmente acordou, entendeu que era tudo real e que tinha escrito tudo o que tinha sonhado. Então começou a escrever a pensar que estava a continuar e continuou a acreditar nas bengalas ilusórias, a beber o veneno que achava ser agua e a respirar o fumo do seu cachimbo. Inacreditavelmente, não morreu, escreveu e escreveu e escreveu e escreveu e escreveu vezes sem conta sem pensar e viveu a mesma vida que eu.