sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Água

Numa tentativa, forçada, para apanhar o sono.
Começo a bater, de uma forma rítmica, nas teclas do portátil.
É uma dança, esta que escrevo.
Não é nenhum género em especial, é a musica que a minha dor de cabeça ecoa.
E pego na água para metaforizar uma sede de escrever.
Uma sede que me seca os dedos nas paragens que faço para dar a volta as quebras de raciocínio.
Procuro assim, um poço que me dê alguma água neste deserto desinspirado.
Numa gota consigo ensaiar mais alguns paços desta estranha dança onde me piso a mim mesmo de tão desajeitado ser.
Forço novamente e espremo esta cabeça dorida por umas gotas que me permitam matar esta sede da escrita que, normalmente, depois de morta me ajuda a dormir.
De golo em golo vou eliminando a secura, e entre a escrita e conversas paralelas no messenger oiço mais uma música que não me desagrada e que por estranho que possa parecer, momentaneamente, afasta-me desta dor de cabeça.
Viajo ao fechar os olhos e isto quer dizer que a sede já não é tanta, mas continuo a precisar de água que como me disseram será um sinónimo de pureza.
Mas longe de mim ter a arrogância de escrever sobre a pureza, uma vez que ando longe de ser puro.
Mas aceito a sugestão, e porque não tentar só uma frase que possa transmitir a ideia rebuscada de que a água é tão necessária para a vida como a pureza o é.
Acerto no poste como todos os meus palpites hoje nele bateram.
Ainda que verdadeira não é uma frase rica em sentido, por isso volto ao pensamento anterior e espremo o cérebro mais um pouco, felizmente já tomei um comprimido senão seria um tormento este exercício que hoje é feito a conta gotas como se de uma torneira mal fechada se tratasse.
Sem querer estender mais do que necessário estou quase a encher o copo que vou beber antes de dormir.
Fiz uma pausa para fumar um cigarro e estou de volta ao poço seco onde cavo por água.
E o copo que está cheio começa a transbordar, o que me indica que finalmente apanhei o sono, já posso dormir.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sem sabedoria

A sabedoria, o conhecimento, as certezas e todos esses dogmas.

Há não muito tempo, encontrei-me pleno de confiança.

Uma confiança quase absurda, que entre encontros e desencontros.

Uns no papel, outros, na ideia.

Estas verdades absolutas que passeavam na minha cabeça estão, agora, com menos coerência, mais dúvida.

Aquela luz magica que por vezes se acende na presença da ideia, imaginariamente.

Fundiu-se, e nesta escuridão onde havia um saber, há, algo, não sei bem o que porque não consigo ver.

Mas sei o que não é.

Não é sabedoria, não é bom senso e se for loucura, já lá estava.

Sem o conhecimento que pensei conhecer, rodeado de ideias fogosas que consomem todo o oxigénio para arderem, asfixiei de tanta ideia maravilhosa me ocupar o pensamento.

Estive inconsciente durante algum tempo, não sei ao certo.

Nem sei, tão pouco, se já estou consciente ou ainda estrangulado com as minhas ideias.

Penso, mas não chego a lugar algum, tenho um barulho infernal que abafa todos os outros focos de luz que se passeiam na minha mente como se de pirilampos se tratasse na, mais escura noite do ano.

Já não vejo o que escrevo, já não leio o que escrevo.

Escrevo as escuras, as cegas, mas enquanto vou tacteando estas frases aproximo-me de algo que se assemelha ao dia, a luz, ao conhecimento e finalmente a sabedoria.

No entanto ao recuperar a certeza, as verdades iluminam-se e sei que quanto mais iluminado estiver, pior vou estar, porque as ideias asfixiam-me e não sei escolher entre a luz e o ar.

Posso escrever ate perder novamente o sentido, ou posso em toda a sabedoria sufocar porque o fogo que arde com as ideias é o mesmo fogo que me tira o ar.

Pequenas coisas sem meio-termo.

Entre o ar e a sabedoria seria burro se escolhesse o saber.

Terei, assim, uma réstia de sabedoria que me permite escolher respirar, ou será apenas o instinto ou mesmo a sorte?