sábado, 27 de fevereiro de 2010

Na Sombra do Sol

Raios invadem-te o aposento a medo.
Enquanto a claridade me traz de volta.
As ásperas pinças erguem-se preguiçosas.
E com a calma de quem prevê.
Tocam na face e não reconhecem, não pertencem.
Nem a face, nem as pinças nem um único pensamento.
Ver o tímido acordar do Sol a raiar.
Gradualmente trespassar o teu isolamento.
Como um qualquer ser da noite, evito a luz.
Fujo, ainda não me quero queimar.
Mas queira ou não, nada pode ser feito.
É inevitável, jogas com as palavras.
O fatal é a derrota, desfeito.
Não fazes as regras e perdes, queimas-te.
Palavras, Chamas, Musas e Força.
O Sol assusta-se e retrai-se.
Desaparece novamente na dor dos teus olhos.
E o frio apodera-se do interior dos ossos.
Mas não tremo, vejo-me no reflexo de uma poça.
Não me conheço, nunca me vi, não sou eu.
Tenho o diabo no corpo e exorcizo-me.
Grito, escrevo e venço o demónio.
Mas a dor ainda dói, persiste em mim.
Esgotado e ainda a fugir da luz.
Só um canto do abrigo permanece na sombra.
A Alma Solitária germinou a esquizofrenia.
Fechou os olhos e sofreu por outro dia.
Na Sombra do Sol.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Louco do Cachimbo


Devaneava pelos labirintos fictícios que ecoavam na sua mente. Fumava o seu cachimbo e falava sozinho. Os pensamentos eram falados em voz alta e muitas vezes escritos. Procurou a personagem que não existia, tal como lhe tinham dito. Era muita exigência, estava demasiadamente idealizada para ser real. Fez das ilusões bengala, água do veneno e oxigénio do fumo do seu cachimbo. Fez tudo errado e o pior foi que acreditou que estava certo. Sozinho num deserto ele imaginava-se a escrever livros fantásticos e realmente seriam se fossem reais. Tinha um poder, diziam que era carisma, diziam que era a palavra, diziam que era sorte. Ninguém sabia o que era. Como todos, pensou ser especial, no seu mundo o mundo não era seu, mas girava em seu torno e ao seu ritmo. Pensou que o fosse mudar, pensou que o seu dom o levaria a algum lado. Pensou em excesso, mas muito resumidamente ele pensou errado. Acreditou ter nascido para liderar, mas era liderado pelo que pensava. Ele pensava que era o outro e que o outro seria ele. Enganou-se porque pensou em vez de viver. Decidiu viver sem pensar e não se preocupou em liderar, isolou-se e começou a escrever. Magia nas palavras, sonhou que tinha tido um sonho e que se tinha tornado num escritor exímio. Sonhou que tinha sido acordado pelo dom e sentiu-se abençoado. Perdeu-se nos labirintos fictícios por onde andou, sentou-se no chão e acendeu o cachimbo. Recitou divagações maravilhosas sem se dar conta de que continuava a dormir. Sonhou e acordou sentado no chão onde sonhou estar sentado. Quando finalmente acordou, entendeu que era tudo real e que tinha escrito tudo o que tinha sonhado. Então começou a escrever a pensar que estava a continuar e continuou a acreditar nas bengalas ilusórias, a beber o veneno que achava ser agua e a respirar o fumo do seu cachimbo. Inacreditavelmente, não morreu, escreveu e escreveu e escreveu e escreveu e escreveu vezes sem conta sem pensar e viveu a mesma vida que eu.

Dias Longos

Disse que surpreendeu e era orgulho.
Eu disse-lhe que, pelo que já tinha dito,
Não me surpreendia e para ela também não deveria.
Seria apenas, um orgulho que nunca é isso apenas.
Reforçou e afirmou que eram só dezoito Primaveras.
Não é Idade, é Integridade.
Dezoito Primaveras com alguns Invernos de Dias Longos.
Talvez uns quase infinitos e nessas eternidades, cresces.
Sofres, amas, vives e aprendes mais.
Porque são dias com mais horas, mais minutos e mais tudo.
Dias que parecem vidas, ao lado de vidas que nem dias são.
Continuamos então, in média rés e a empresa discute a máfia.
E as coisas que a sociedade faz rodarem em nossa volta.
Uma parte diz a outra o que lhe parte quando nota.
A outra avisa que não note, que se envolva e toque,
Apenas no que deve notar, envolver e tocar.
O interior da linha que separa.
Enquanto a conversa caminha e não para,
Passa pela surpresa e orgulho da empresa.
Toca no sobreviver dos dias que se esticam.
Toca por dentro, no centro da toca e do sentir.
Fala na dignidade e maturidade ao passar pelos dias.
Falamos do orgulho que tens e da surpresa que sentias.
Não é a idade, é o evoluir que define o equador entre nós e o mundo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Poema

Um poema pode ser uma história de amor.
Pode ser um momento, descrito eternamente.
É uma alegria, um desejo ou um receio.
É imaginação, é exibição.
É detalhe e brilho.
Pode ser simplicidade sem luz.
O poema é o que calhar.
Se o espírito sobe, pode voar.
Se desce, talvez não saiba aterrar.
É fome e exagero.
É satisfação e desespero.
Um poema, pode ser raiva e amor.
Pode ser frio ou calor.
E existem de todos estes tipos.
E de muitos mais, ainda nunca escritos.
E apesar de um poema poder ser tudo sem ser nada.
O melhor poema é aquele que apenas é.
Sem metáforas nem outras jóias.
O meu preferido é simplesmente um poema.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Chama

Escalda a mente e o corpo, até que os devore.
Faz bem sentir e querer não apagar.
Alimentar a Chama e não lhe permitir dormir.
Para continuar tornear-se num colorido de calor.
Ela dança incandescente, apazigua e hipnotiza.
A magia da Chama, domina a consciência.
E Ela consome o tronco ate ser cinza.
Arde o seu feitiço em quentes bailados de magnificência.
E mais lenha tenha, mais inflama a chama e carboniza.
Terá ardor e fascínio mágico necessariamente.
A perpetuar a queima do pequeno cubo de madeira.
E que qualquer maneira, a consumir o oxigénio da mente.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cavalgar

Cavalguei noites a fio em busca de uma recompensa, quando na verdade era recompensado sempre que montava as letras e batia nas teclas de forma selvagem.
Esse era o prémio que procurei e recebi vezes sem conta, sem dar conta.
Fui premiado por um ser superior, que me deu o gosto por isto.
Isto, que é apenas isto, para quem não vê mais que isso.
Isto, que para mim, é o mais pesado troféu que levanto sempre que rodo pela palavra e sempre que por ela me deixo rodar. É a indiferença com que escrevo, o amor com que olho, ou outro sentimento qualquer num outro gesto qualquer, que acaba por ser posto neste formato de medalhão, que vou acumulando em mim. É poder ganhar com as derrotas e fazer das amarguras sabores melhores. Como se fosse o cavaleiro da escrita, escrevia, escrevo e vou continuar a escrever, apesar de não ser o nobre poeta e de ser apenas o do titulo maldito. Sorrio com o que por mim é escrito.

Shaman

Fiz um acordo no passado.
Com um Ícone do Abuso, um amigo.
Era o Rei Lagarto!
Vendi a minha alma e agora mendigo.
Por algo que alivie o vazio.
Ou algo que me alicie e tire o frio.
Do gelo, que carrego no peito.
Da pedra, que bate sem derreter.
O Shaman falou comigo.
E de Mago para Mago.
Enquanto me gritava.
A tua maldição é escrever!
É dizer e fazer!
Tal como ele missionava.
Impressionar uma geração.
E flutuar no infinito.
Escrito no tempo.
Pela tua louca vida e seu drama.
E pela trama, que te consome sem gelo.
O frio que tens no peito é o calor do copo cheio.
Muitas coisas me disse, numa conversa inexistente.
Em que eu lutei persistente e bravamente com o liquido.
Que acabou por me derrotar, tal como eu queria.
E Agora que me recordei do pacto.
Fluo desbloqueado entre Brisas, intacto.
E contigo ao lado.
Sem que domines o tema.
Aprende a gostar da tua maldição.
É o lema e não há nada que tema.
Não receio ser maldito, porque o sou!
Anseio o caminho, porque sei para onde vou!
Só não vejo o fim, essa é a minha surpresa.
Livre no final, vou viver de alma presa, até que chegue.
Vendida, como se algum dia me tivesse pertencido.
Combinei com o falecido.
Um pacto, uma maldição e um desejo parecido.
Ficar depois de ir, para sempre no tempo, sem nunca ser esquecido.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Treta

É a coerência com que articulas o palavreado.
A técnica com que deslizas pelo argumento.
A contornar as chaves e a fluir sempre enquadrado.
Em domínio do tema, conduzi-lo na direcção.
Que te seja mais útil no ordenamento.
Da treta e toda a sua construção.
É fazer a melódica lábia.
Soar como um canto.
Introduzir e Desenvolver de forma sábia.
E concluir com aplausos inflamados.
É um encanto, para a plateia rendida.
É apenas um estilo de vida.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Imagine now to truly remember in the future

One day you will look back and remember only in your imagination.
To wish being able to do more than just that.
Until that day comes you will be happy the way you think you are now.
Then you will realise how happy you could have been.
And how you could truly remember in stead imagine.
Imagine now to be able to remember in the future how happy you truly were...

Fotografia do Autor

Apresentou uma nova postura,
De chapéu castanho aos quadrados.
Era o Príncipe da loucura,
De barba e bigodes destacados.
Espírito da eterna aventura,
De camisa e botões arrancados.
Louco desprovido de cura,
De calças gastas e sapatos semi-rasgados.
Sou ainda tudo isso, continuo o mesmo Displicente.
Sou o Salvador Insubmisso, sou o Autor Demente.

Salvador e o Corsário Vagabundo

Divagas ao longo de um tempo,
A procurar um momento,
Que se prolongue no mesmo.
Das mil e uma voltas ao relógio,
Sem encontrar o que se prolonga.
O caminho sem fado, é passeio no Oceano Deserto.
Deserto de Tudo, Deserto com Nada.
No vazio de uma viagem longa.
Sem Rota, vagueias pela prisão de teias.
Enleado no enredo, em que balanceias.
És o Vagabundo, que Divagou e ainda tentou,
Algo simplesmente impossível.
Tentaste e fracassaste de forma circular.
Ficaste-te pelo tentar.
Semeaste Ventos e foste colhido pela Tempestade,
Que tornou o que Salva, no que Deriva.
Foi a Brisa e nem deu chance.
Sem remo nem vela, estás em alto mar.
Mas vês terra de relance.
Vagueias sem bússola, para Divagar sem Norte.
Só confiante na sorte.
És o resultado da dança das ondas.
És Náufrago, és o Pirata Vagabundo.
O Corsário do Barco afundado,
Na ilha do fim do mundo.
Eu… Sou o Salvador e divago Bloqueado.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Fugas de Informação

Afirmações a terceiros.
E fugas de informação.
Coisas ditas sem rodeios.
Evasão fruto de distracção.
Não é mentira, o tema de liberdade.
Tal como a vontade de negociação.
E construção de verdadeira afinidade.
Foi dito sem querer, mas não deixa de ser verdade.
Do terceiro á segunda, aquela informação.
Voou e causou reacção.
Que aparentemente, pareceu positiva.
E até tinha, uma nota informativa.
Seria só depois da ida e da volta.
O tomar de uma iniciativa.
Que não foi tomada e caiu em esquecimento.
Podia ter sido longo e bonito, mas foi um momento.
Dos que ficaram por repetir.
Gostava de afirmar novamente.
Para tentar, fazer reagir.
E com sorte, ter mais um instante.
Para arriscar num a dois.
Poderia ser que desta vez.
A boa nova, não ficasse para depois.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Esquizofrenia e Paranóia

Conscientemente, multiplico-me e converso.
Livre de sentido, falo com o Pavão.
Este quer que pergunte ao Pirata, que não acredita.
E traz o Mágico para o diálogo.
Uma discussão de loucos, cada vez mais loucos.
Todos nós argumentamos, todos envenenamos.
Uns aos outros, a mim.
No fim, as conclusões são óbvias.
Já sei quem é o meu pior inimigo, somos nós.
Sim, já sabíamos, nós somos os teus arqui-inimigos.
Mas ainda não fazemos ideia de quem são.
Por oposição, os teus amigos.
E então, entre tantos loucos e velhas certezas.
Certas perguntas continuam presas.
Onde confiar e desabafar sem ciladas?
Importante questão sem resposta.
Apenas paranóias divagadas.
Sei que não devo confiar em mim.
Mas não sei em quem o faça.
Assim, só nos resta acreditar em mim.
E não cair em desgraça.

Reflexos Projectados

Nunca sentiste, o que desejei que sentisses.
Sempre vi, o que queria avistar.
Nunca vi, o que deveria mirar.
Reflexos do que queria, foi tudo o que via.
Sempre que olhava, sem ver.
Projectava nos espelhos, os anseios.
E tudo o que presunçosamente vi.
Foi o que inocentemente pareci.
O calor que me aquecia.
Era outra realidade.
No reflexo de simetrias geladas.
Todas as presunções eram miragens.
Descuidadamente projectadas.
Por cima das autênticas imagens.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Gotas

Por entre as gotas desta chuva.
Vou dançando, no tal terraço.
Vou, rodo e valso, sem passo em falso.
Tento não complicar e vou dançando.
Isto tudo, claro, vagabundeando.
Nas palavras malditas.
Nestas danças escritas.
Só para criar novamente, na alta plataforma.
Onde criar é a única norma.
Já não avisto as estrelas, desde a última subida.
Hoje o tempo não convida a subir.
Mas faço como até agora na vida.
Nunca precisei de convite para surgir.
Escrituro para o futuro, as letras de mais uma ida.
E retorno, ao sítio onde normalmente contorno.
Expectante e ansioso, com o que de novo, irá subir.

Motivação

Acordar com vontade de não dormir.
Lutar todos dias por querer ganhar.
Todos os dias, cair e levantar sem desistir.
Se for preciso, claro.
Nos dias melhores, colher os frutos da vontade.
Saber que a perseverança resulta na realidade.
É usar o querer para conseguir.
É nem sempre conseguir mas continuar a querer.
Até conseguir, o alcance da vontade de ferro.
Lutar para que a motivação não acabe.
E quando acabar uma luta.
Manter a chama acesa e não sair do jogo.
Ir de novo para a guerra, para degustar as vitórias.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Escrever

Quando a inspiração está por cima, ninguém diz nada.
Quando ela está por baixo, ninguém diz nada.
Por regra, nunca ninguém diz nada.
Eu, limito-me a escrever o que ninguém diz.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Areosa

Sitio daquele céu cinzento.
Tecto, do melhor momento.
Lugar de paródia, lugar de labor.
A referência da casa e um clã.
E testemunha de debates com calor.
De uma família de sangues cruzados.
Irmãos e irmãs do gene internacional.
O Clube dos Insurgentes Semeados.
Lar da heterogénea linhagem real.
Areosa, santuário do Saudável e do Feliz.
Território do Nobre e do Paciente.
Da Suposta, da Estrangeira e da Beijoqueira.
Arredor do conhecimento e iluminismo.
Dona da casa internacional.
É a área da geração de seu baptismo.
E lembranças do móvel majestoso.
Poderoso sitio de socialização excepcional.
Areosa da memória, para a história.
E nostalgia do seu Alentejano
Que visita o tempo, para perdurar mais um ano.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Vice-Versa sem Conversa

Inspirado pelos momentos.
E por vezes monumentos.
O meu trabalho reflecte isso.
Em todas as divagações e pensamentos.
E são, por isso.
Anotados de forma desusada.
Tudo o que faço, tem o que me leva a fazer.
Se estou sem anotar nada.
É porque nada me leva a escrever.
Por regra, transporto o interior para fora.
E vice-versa, depende da hora.
Agora e sem palha para muita conversa.
Salvo-me e vou-me embora.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Apresentações

Preparo a entrada e ajeito o pé direito.
De degrau em degrau, vou escalando.
No topo das estrelas atesto o peito.
Com o ar da elevação pura.
E perante os astros desta constelação.
Congratulo-nos da nossa loucura.
Sorrio e perspectivo boas fortunas.
Apresento-me ás criadoras em tom de tributo.
Sou O que Divaga, perante esta miragem vaga.
Bem do alto, no topo das criações.
Quebro o gelo nas apresentações.
Passo dado e de entrada feita.
Sento-me com o trio e assisto o céu.
Atentamente, vou viajando parado e levanto o véu.
Subi e entrei, viajei e sorri com o que vi.
Com o peito cheio do ar limpo, no terraço das visões.
Desço ao meu retiro das Divagações.
E em breve voltarei ao Sitio das Criações.
Até que isso aconteça e antes que desapareça, saúdo as três.
Adeus, um beijo e até a próxima vez.