domingo, 14 de dezembro de 2008

Vagabundear

Vou divagando numa madrugada chuvosa, sentado na noite.
Não ando a chuva, não me quero molhar, tenho medo da gripe e de todas essas febres.
Poderia usar um guarda-chuva, para evitar as pingas, mas melhor, estou em casa.
A noite onde me sento é o sofá da sala, as divagações são, apenas, um vagabundear imaginário sem sair do sofá.
E a chuva, a chuva é real, mas está lá fora e oiço-a apenas.
No entanto já divaguei, já me sentei, já me molhei, já me engripei e isto, claro, porque já andei a chuva.
Todos andamos.
Assim, hoje a chuva em que percorro é uma chuva da qual estou protegido.
Não estou molhado, estou sentado no sofá, enrolado numa manta, a fazer isto que poderá ser uma tempestade ou, simplesmente, um copo de água.
Mas a verdade é que hoje não estou a conversar no Messenger nem estou a ouvir musica.
Completamente sozinho, tenho os pés frios, gelados.
E ainda não me decidi a ir buscar umas meias ao quarto para aquecer os pés.
Estou aqui a vagabundear, preguiçosamente, sem sair do sofá.
Mas gosto da chuva, gosto da noite, gosto da gripe, só não aprecio os pés frios, no entanto acredito que se assim não o fosse hoje não me seria possível vagabundear.
Acredito, afinal para vagabundear há que ter os pés frios.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tolerável

É tolerável o facto de querer estar contigo.
É tolerável a ideia de te querer beijar.
Não é apenas tolerável, está longe disso uma vez que o apenas por si só não é conjugável com o meu tolerável.
O meu tolerável não é concreto porque eu também não o sou.
Sou abstracto, mas sei exactamente o que o meu tolerável quer dizer concretamente.
Concretamente não é apenas tolerável, é tolerantemente muito mais que isso.
E nessa definição sou intransigente, logo não aceito o apenas nem nada mais.
Tolerável, o meu tolerável é bem mais que o tolerável normal, que é apenas isso.

Saborear

Há pacotes de açúcar que dizem que saborear é a melhor coisa do mundo.
Nada disso, os pacotes de açúcar não dizem nada porque os pacotes de açúcar não falam.
Saborear um toque entre dois lábios, que bailam no magnetismo tal como o íman o faz.
É crescer água na boca só de imaginar e deliciar-me com uma memória.
Termo vago, o suficiente, para todos aqueles que quiserem perder algum tempo o façam.
Ao divagar sobre saborear pode ajudar lembrar o que se quer saborear, como se chama o sabor, onde está o sabor e muito importante saborear de facto.
O sabor de um toque que toca e percorre um corpo quente enquanto uma brisa fresca se aproxima e se deixa saborear, é esse sabor que o açúcar diz, suponho.
A delicia que delícia as papilas gustativas em todas as infinitas tentativas.
O sabor de um corpo, o gosto de um beijo, o apetite pelo contacto e mesmo o saborear de um olhar.
Tudo isso é saborear, tudo isso é apreciar.
Acredito que haja, ainda, muito por dizer, mas, no entanto e entretanto, deixo a restante divagação ao critério de cada um.
Já que esta reflexão é apenas uma perna no corpo de sabores que neste momento vejo ao divagar com o saborear.
Deixo-vos com um conselho, se me for permitido, saborear é durar, durem porque enquanto durarem terão momentos que serão sempre, nas palavras do açúcar, a melhor coisa do mundo.

sábado, 6 de dezembro de 2008

O Tarado

Tal como o alcoólico, o tarado vive descontrolado, fora de si.
Não tem poder nem manda nada, está a deriva no oceano da vida.
Desidratado, talvez alucinado, a visão treme.
Nada mais, nada menos do que nesse tremer visual, o preciso momento chega, a tara esta aí, não vi, juro! Não estava atento.
A visão turva distorce a sanidade enquanto torneia a loucura.
Esta loucura incurável, sem remédio nem solução faz do tarado um outro ser.
Irreconhecível ou ate mesmo outra personagem.
Um demónio na posse de um corpo ansioso pela visita purificante, que possivelmente não exorciza nem acalma a tara.
O tarado já não vê terra, ao sabor das ondas vagueia num mar de sereias que não são sereias e não são nada.
É sol, aquele que torra o cinzento e que queima as mentes, cheias de ideias e ideais que viajam, para longe, na perversão.
E sem razão de ser, definitivamente, sem razão para reclamar culpa o sol pela torra e a tara pela natureza e pelo sangue.
A indefinível panca, que lança o marujo ao mar e o devolve a terra tarado, é a própria tara, o tal vício, ossos do ofício.
Estas taras, o tarado.