terça-feira, 30 de junho de 2009

Coisas Inversas

O domínio que tinha é quem hoje me controla.
O controlo que possuía, a dominação que me possui.
A segurança que me marcava é a incerteza que me demarca.
Na livre perspectiva, vejo-me preso a uma vista.
Perdi o palco e o publico, deixei de ser artista.
Encontrei quem queria e perdi-me de quem achei.
Inverti o processo irreversível.
Não me governo desgovernado e o que sabia já não sei.
E caí do trono onde a mim me desinstalei.
Agora vejo a perda que não pensei ser possível.
Inverso e dominado, teclo calado o que sinto num mundo trocado.
Preso na liberdade adquirida pela atenção que não foi cedida.
Necessito do que foi necessitado e divago inversamente.
Gelo com o lume que me queima e ardo com o gelo.
Insisto, não desisto, resisto com teima.
O Salvador por salvar divaga discordante.
Vagueia descalço e num sentido arbitrário.
A lógica que via está agora ao contrário.
Os momentos são horas.
O bom é o mau.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Portuguesa

É doce, meiga e é mulher.
É o sangue lusitano do fado e do lume.
A mulher portuguesa é a tradição e beleza em dois planos.
Por dentro, não há descrição, um coração.
Por fora, é o seu longo cabelo castanho.
São os seus olhos que brilham a combinar.
O peito que se une a um total fenomenal.
Contornos ricos em adornos detalhados.
A portuguesa não precisa de rimar.
A representação do que melhor há em Portugal.
Ela é a exemplar perfeita de um coração perfeito.
É postura, segurança e classe.
Portuguesa é o melhor adjectivo para atribuir.
É a alma que faz a minha metade sorrir.
De forma desenhada, a portuguesa é arte.
É única com a sua plural singularidade.
É muito em poucas palavras, é a lusa saudade.

domingo, 21 de junho de 2009

Perspectivas Genuínas

Errei, neguei e nego até a morte.
Um erro fatal em que fiquei sem norte.
Mas não foi mentira nem foi uso.
Foi real e por vezes confuso.
Não foi perdido nem será esquecido.
Fui salvo no tempo vivido.
Se tivesse confessado não teria vivido o tempo.
E por isso nego convicto.
O veneno foi mais forte que o erro.
E na verdade não há palavras que santifiquem.
Há apenas as palavras que não menti.
As palavras verdadeiras quando falei o que sentia por ti.
Sei genuinamente que foi puro o que senti no peito e na mente.
Foi na fatalidade de um erro imperdoável, que guardei para mim.
Foi por guardar para mim que ainda vivi até ao fim.
Não esqueças porque eu não vou esquecer.
Ou esquece, se for mais importante um erro de percurso, que o caminho em si.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Janelas

Olho-me nos olhos em frente a um espelho.
Estes espelham cruzamentos de luzes sem fim.
Abro as janelas da minha Alma e vejo para dentro de mim.
Espreito e não entro, barro-me a mim mesmo por instinto.
Desconheço por completo a profundidade da visão.
Pela janela aberta há apenas algo que me desperta.
O nada de uma Alma vazia entre copos e divagações.
Perco o pudor e tento novamente.
Olho até os olhos pestanejarem e fecharem a janela a minha frente.
Mais uma vez apenas consegui espiar alguns instantes.
Mas desta vez não desisto porque vi mais do que antes.
A derradeira visão, vou partir os vidros e forçar a entrada na minha mente.
Entro e tropeço na entrada para uma queda no escuro onde flutuo.
Entre copos, asneiras e repetições vou voando por entre divagações passadas.
Até que o, inevitável, impacto me projecta novamente para fora de mim.
Saio pela janela forçada e através dos cacos concluo.
A janela estava fechada porque não sou bem-vindo ao meu interior.
É mais que certo, que o melhor é puxar o meu interior ao exterior.
Janelas de salvação de uma Alma divagante são apenas para vigiar.
Afasto-me entre estilhaços que espelham os meus movimentos de abandono.
Disciplino-me enquanto me dirijo para a saída, até ao dia que volto.

Humor

Perco o sentido ao ver os sintomas que o País nos dá a sentir.
Gostava de o manter, mas nem nos sonhos dá para ver e sorrir.
Mesmo o bem disposto uns trocos contados no bolso.
Sofre porque alguém mata a disposição com a imposição de mais um imposto.
São as desgraças de uma vida desgraçada, onde te matas a trabalhar e morres sem nada.
Nada nem para ti nem para os que ficam, no fundo até tem graça.
Por mais que prometam que passa e que a balança equilibra.
São só anedotas, que mais querem que diga? É mentira!
Não é hilariante crescer a ver o crime como única opção.
Viver uma vida com os joelhos pregados no chão.
Preso sem sentido, divago quando os olhos só captam o terror.
Enquanto uma meia dúzia sorri e vive bem e contente.
A maioria se vive mais um dia na miséria, mas nem a sorte sorri para o crente.
São os que sentem na pele a gripe duma Nação, são os vagueiam descalços no chão.
São os pés descalços que sofrem os percalços que os calçados que impõem.
Foi imposto e não sei por quem, que uns nada e outros tudo podem.
Se a vida facilitasse quando os palhaços ironizam.
Havia para todos, e não faltava aqueles que agora precisam.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Asneiras

Encontro o sarcasmo no fundo de um copo.
Até chegar ao fundo ingeri asneiras com gelo.
E esse copo que como os poços, tem um fundo.
Esse copo…
As asneiras dentro de um poço, são tantas que perco a conta.
Ao fim ao cabo andei a dançar no gelo até cair na asneira.
Depois da queda, o mar de asneiras faz com que me afogue.
Mas sem morrer afogado, já tenho o pé na base.
Não há mais aquele risco de afogamento.
Mas também já não há asneiras, afoguei-me nelas até ficar grogue.
Preso num copo onde me encontro com o meu reflexo.
Eu, o meu reflexo, o sarcasmo e a minha alma lá em cima.
Bem na borda do copo a minha alma chama por mim.
Embriagado com as asneiras e com o sarcasmo.
Hipnotizado pelo meu reflexo, gostava de poder encher o copo de asneiras novamente.
Assim era capaz de, sobre elas e sem as consumir, erguer-me e da prisão sair.
Assim libertava-me daquele copo sarcástico.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Safari

Sou selvagem e pouco recomendado.
Vivo bem presente das minhas opções.
Escolho o trilho que até me pode trazer sarilho.
Mas a minha salvação é a minha sorte.
Vou no meio do mato sem nunca perder o norte.
Uma vez afirmaram uma igualdade inexistente.
Uma vez disseram mais do que deviam.
Eu sou o trilho que dança entre o abismo e a selva.
Sou o caminho acidentado em que a minha alma se eleva.
Acendo um destino arriscado.
De tiro em tiro que tiro, saboreio.
Podem dizer que é safari, para mim é recreio.
Sou a fauna e sou liberdade.
Sou a alma ao horizonte.
A vida vive-me feliz no seu curso.
Não tenho medo do caminho.
E pela terra que derrapa, só paro no cimo do monte.
Uma divagação sem carta nem estrada.
Pelo mato vivo conduzindo.
Sei que um dia a salvação estará a minha espera.
O arrependimento, não conheço.
E que eu fosse alcatrão, quem te dera.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ponderar

Eu pondero, tu ponderas, nós ponderamos e já todos ponderam.
Pondero em conversas sobre sugestões e televisão em movimento.
Pondero divagações e o que sou no momento.
O que sou no momento é porque já o fui e porque sempre o serei.
Há ponderações sobre nós mesmos, outras sobre os outros.
Sobre o que nos motiva, o que nos trava e sobre tudo o resto que não da para descrever.
Talvez dê, talvez seja a falta de inspiração, mas eu pondero porque quero divagar.
E por isso não vou parar e escrevo com atenção ao que me rodeia e alheio a mim mesmo.
Mas escrevo para mim e para todos e por mim e por todos.
Escrevo porque posso ponderar a vontade.
Divago num casamento entre quem sou, quem devia e quem queria ser.
Gostava de ser um génio, gostava de me compreender, mas como dizem em ponderações a complexidade poderá ser um dos meus travões.
Ponderar é supor e errar.
É tentar sem medo de falhar.
É talvez, acertar.
Não sei, imagino e divago, falo sem certeza, lá estou eu, suponho, a ponderar.