quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Árvore do Rei

Há quem diga que tenha visto.
E há quem tinha visto realmente.
Eu vi, juro que vi isto.
Ele caminhava nobremente.
Um Rei a passear pelo seu reino.
Um que apenas reinava em casa.
Um que apenas reinava em demência.
Certo dia.
Para provar esta evidência.
E como que inexplicavelmente.
Levantou-se do trono.
E deu um passo.
E outro e outro e outro…
Deu todos os suficientes.
Dados por seus pés monárquicos e dementes.
Para parar frente a uma árvore.
Num qualquer recanto da sua extensa e real mata.
Era uma árvore qualquer.
Pelo menos era até essa data…
E majestosamente, com a maior naturalidade do seu mundo.
Decidiu regar o seu pé.
Regá-lo com o seu ser.
E por estranho que possa parecer.
O Rei que afinal não era Rei.
Que por sinal era apenas Louco.
Mijou o pé da árvore, que realmente era uma planta de jardim.
E não fosse pouco, o Louco descreveu-o por palavras do início ao fim.

sábado, 22 de maio de 2010

O Doido e o Ofício

Admiro a pureza do Doido.
É puro, verdadeiro.
Conhece alienação, sabe da demência.
É retórica sem protocolo, pouco ortodoxo.
Sou o aleatório mais casual por excelência.
Que se dane suposto.
Já sou Doido com posto.
E aposto sem garantes.
Consciência insana, como nunca antes.
E visto-me a rigor, uso alguma paciência.
Codifico um mito e fabrico um herói.
Inspirado em druidas e salvadores barbados.
Ou até feiticeiros abençoados.
O poeta é uma palavra.
Um palavrão!
Numa camisa-de-forças!
Entre sílabas e forcas.
É um estoiro sem escala…
Organismo sem rédeas rentes.
Enraizado em mangas gigantes.
Que te rodam como quatro paredes.
É calmante, sou anestesia e viagem.
Vista na melhor das lentes.
Vivo por mundos selvagens com animais gritantes.
Inspiro hoje uma vida sem cinto nem mensagem.
Numa jornada de Gigantes.
Sou premiado pela ironia.
Pesada como os segundos do mais longo dia.
Ainda registo nos tais jornais.
Salvo os episódios do hospício.
Por entre os doidos reais.
Os meus, os geniais.
O Doido e o Ofício.

sábado, 8 de maio de 2010

Sem Memória

Devia ter escrito quando pensei.
Devia ter escrito quando senti.
Não escrevi, já sei…
Agora não me lembro.
A memória foi expulsa.
E o meu pensamento pulsa.
Sem as palavras que não escreveu.
É apenas energia, somente luz.
Sou só Eu.