sábado, 31 de outubro de 2009

Água e Azeite

Solução heterogénea é a insolúvel e díspar combinação.
São os líquidos que se separam por mais que os juntem.
A temperatura aquece e arrefece e divisão, permanece.
Ebulições, justificações e até conspirações, não permitem.
Nem sempre é na nudez do olho que vejo e olho.
Mas a mistura parece não dar.
Num primeiro momento avista-se…
Algo que no segundo olhar é nítido.
As teias que prendem e puxam e empurram e libertam,
Em direcções erradas e sem consenso.
Por isso, paro, penso, mereço.
Chuva e Óleo podiam combinar.
Se fosse tudo possível de homogeneizar.
Na directa ingerência do sentido.
Água e Azeite, o composto que ainda não está diluído.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Pavão Presunção

Valorizas-te tanto que até o nome é presunção.
Pavão de Peito Feito, Salvador sem Salvação.
Mas a verdade é que tens valor e não esperas reconhecimento.
Tal como é que és duro como o gelo e frio como o cimento.
É possível que seja ao contrário?
Possível seria, se eu estivesse enganado.
Assim está correcto tal como eu estou endiabrado.
Possuído por esta divagação, escrevia o meu dicionário.
Era no entanto, complicado que o interpretassem.
Já que, por metade das vezes nem eu a mim me entendo.
Como poderia eu permitir que na minha mente entrassem?
Como seria possível que comprassem o peixe que vendo?
Houve o que pregou aos peixes.
Aqui me eis a pregar para ti só para que não me deixes.
A ti, tu Salvador de ti mesmo, tu que danças na linha da loucura.
Eu, que por vezes pareço são.
O Pavão Vaidoso, Orgulhoso e sim… Teimoso.
Esquizofrénico e doente, sou eu, o autor desta louca dança.
É esquizofrenia consciente num encontro no parque.
Olho em redor e vejo-me em toda a parte.
Doido nas conversas comigo próprio
Esgoto-me e torno-me impróprio.
E antes que me torne insuportável aos meus padrões.
Retiro-me sem Salvações, eu, o Rei dos Pavões.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Insónia Aparatosa

O Aparato que vai nesta Insónia continuada.
Cansado no corpo e com a Alma esgotada.
O Aparato não pára e a máquina não adormece.
O corpo está fraco e sem combustível.
Está esgotado e a queimar o fusível.
Mata a Alma do Libertador que se esmorece.
A festa é na mente extasiada pelo desgaste.
O Dormir de Olhos Acordados e Acordar de Olhos Adormecidos.
O não dormir dos neurónios enfurecidos.
Enfurecido não é o termo, é acordado num longo termo.
E sem ter-mos termos metemos termo ao Aparato sem término.
Somos nós: Eu, a minha Alma, o cansaço e a Divagação.
Não sei quantos regressam, mas pelo menos uns de nós voltarão.
O ruído silencia-se e agora nada seria melhor, se também a Insónia se fosse.
Guardo, publico, desligo e fico sem combustível.
A todos até…que o próximo Aparato se faça visível.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Regressar

É voltar enraivecido e descarregar nas teclas do costume.
Não é enraivecido é apenas com alguma gana.
Regressar com letras de estrume.
A gana com que me atiro em letras que vou agredindo.
Até que a sova resulte numa divagação bacana.
Pouco convencional e com um ritmo inexplicável.
O regresso dos devaneios de um Salvador que não salva a dor.
Sem salvações e com a Alma transformada.
Alterada numa outra coisa, num nascer de outra Alma penada.
Divagações sem sentido, ou algum, para quem tem sentido.
Regressar para me retirar.
Falta a motivação com que poderia realizar.
Assim vou divagando em ritmo alentejano.
Bloqueado e com os dedos perros tento voltar.
Simplesmente não da, parece que acabou o tempo das divagações.
Sinto que me aproximo da era da realização.
O ideal seria matar a leveza das palavras que tenho oferecido.
É altura de ir aos projectos, concretizar obras primas.
Não me sai a vontade, não me sai nem Palavra nem magia.
Fogem-me os pensamentos em linhas que se partem quando puxo ideias.
Será isto que tenho diante a minha vista? Será a morte do artista?
Pode ser tudo na vista e morte duma era que já era, mas artista nunca foi.
Talvez o Salvador se tenha salvo das Divagações.
Talvez seja tempo de nascer outro ser que expresse o que o Salvador não vê.
Regressar, duma Ausência que se fixou e habituou ao vazio.
Regressar ás Divagações que estão por um fio.